Josely Vianna Baptista
(Brasil, 1957)

 

LOS POROS FLORIDOS
(Fragmentos)

 

Canto II

 

Desoladas de cielo y tierra, en medio del sendero tinieblas
y a los vientos, desoladas de casi todo,
J’ai heurté, savez-vous, d’incroyables Florides,
las ausencias son áncoras que la herrumbre
carcome, son falsas las distancias
que nos enseña el viento, y los árboles látigo.

 

El trópico del sol, en esas nubes sin cielo,
descubre en su reverso el cuerpo de un sentido,
el embarazo de los peces en el silencio de las redes,
en las pieles que oscurece el revés de los reflejos
(mirar que arde, organiza, en la fiebre de un abrazo),
el sudor en hilos de bronce de hombres bajo el sol:

 

deslumbrante sudor
en un mundo más allá del mundo.

 

Y el leve lino crudo que nos desviste,
gasa: tantos días de sol
en nuestros cuerpos desnudos. Tu rostro
en laguna de jade sumergido,
en nítido vidrio
o fragmentos de mareas —bajo el viento
sur—, tu rostro sumergido.

 

(Buceo fondo y en mares aislados
me agarro al cuerpo como al lenguaje
que el cuerpo trae a superficie.

 

Fulgor a lo lejos: el colorido de las boyas
entre los golfines.

 

En las hojas sueltas de las metamorfosis
—si de los poetas valen los presagios—
me fundo, más allá del mar, de mí,
y del amor que seguirá amándose.)

 

Suspenso el tiempo en visco
de resinas, los hongos
se entremezclan a las caracolas:
furor de floridos sombreros
(chiaroscuro) entre el zumbar
de las leyendas de los moluscos.

 

Páginas vírgenes que los besos
abren, trance de lazos, vestes
que caen, isla de estrellas
en medio de la espuma: galaxia rubra
que el mar inscribe en rouge
baroque por toda la playa.

 

Por toda la playa bichitos raros
ruedan al ras y entre tus dedos,
rayos calcáreos que rozan, breves,
una otra piel, otro estuario,

 

páginas vírgenes, fósiles, temporales.

 

En el vaivén del mar, de un oro-góngora,
el abrazo imaginario de un amor distante,
y en mis ojos mojados tus cabellos,
húmeda maraña de racimos en el rostro,
los labios (respira el mar en pliegues
como un pez) entreabiertos —ostra,
el agua agitando sus agallas-persiana,
y las fisgas de un abanico estragado al sol
en las alas disecadas de un élitro
marino —el desastre de las formas,
la promesa de los pliegues— corales
desangrándose en pálido crêpe.

 

Cartografía fugaz de imágenes peregrinas,
caligrafía opaca en la opalina etérea de las arenas.

 

(Traducción: Reynaldo Jiménez).

 

OS POROS FLÓRIDOS
(fragmentos)

 

Canto II

 

Desoladas de céu e terra, em meio à treva / e aos ventos, desoladas de quase tudo, / J’ai heurté, savez-vous, d’incroyables Florides, / as ausências são âncoras que a ferrugem / carcome, são falsas as distâncias / que nos acena o vento, e as árvores vergasta. // O trópico do sol, nessas nuvens sem céu, / descobre em seu reverso o corpo de um sentido,/ o embaraço dos peixes no silêncio das redes, / nas peles que escurece o avesso dos reflexos / (olhar que arde, organza, na febre de um abraço), / o suor em fios de bronze de homens sob o sol: // porejar luzidio / num mundo além do mundo. //  E o leve linho cru que nos desveste, / gaze: tantos dias de sol / em nossos corpos nus. Teu rosto / em laguna de jade submerso, / em nítido vidro / ou cacos de marés – sob o vento / sul –, teu rosto submerso. // (Mergulho fundo e em mares isolados / me agarro ao corpo como à linguagem / que o corpo traz à tona. // Fulgor ao longe: o colorido das bóias / entre os botos. //  Nas folhas soltas das metamorfoses / — se dos poetas valem os presságios — / fundo-me, além do mar, de mim, / e do amor que seguirá se amando.) // Suspenso o tempo em visco / de resinas, os cogumelos / se entremesclam aos búzios: / furor de flóreos chapéus / (chiaroscuro) entre o zumbir /das lendas dos moluscos. //Páginas virgens que os beijos / abrem, transe de laços, vestes / que caem, ilha de estrelas / em meio à espuma: galáxia rubra / que o mar inscreve em rouge / baroque por toda a praia. // Por toda a praia bichinhos raros / rolam no raso e entre os teus dedos, /
raios calcários que roçam, breves, / uma outra pele, outro estuário, / / páginas virgens, fósseis, temporais. // No vaivém do mar, de um ouro-góngora, / o abraço imaginário de um amor distante, / e em meus olhos molhados teus cabelos, / o úmido emaranhado de racimos no rosto, / os lábios (respira o mar em dobras / como um peixe) entreabertos – ostra, /
a água agitando suas guelras-persiana, / e as fisgas de um leque estraçalhado ao sol /
nas asas dissecadas de um élitro / marinho – o desastre das formas, / a promessa das dobras – corais / se dessangrando em pálido crepom. / Cartografia fugaz de imagens peregrinas,/ caligrafia opaca no opaline etéreo das areias.

 

Canto III

 

Fin de tarde, las sombras sudan
su tintura sobre los colores, extraen
del raro grano de la luz el contorno de las cosas,
las arrugas en la concha del molusco,
grafismos, valvas milenarias con reservas
de sal, poema extraño trenzado
en escarzos de oleandros,
mientras los cuerpos
se arrastran en cámara lenta,
y nada es imagen
(tu cuerpo blanco en mar de sargazos),
nada espejismo,
en la tela rútila de las pálpebras.

 

Las sombras sudan, trasudan,
y ésa es la sombra más cierta
de las sombras calcinadas que me cercan.
Quiero que tome mi cuerpo
como un amor, como inscripción rupestre
en el granito, como el verso
que un tuareg pega al cuerpo.

 

Quiero llevarla conmigo, como un amor,
como esa ausencia azul que asombra
la noche y sueña el contorno de un rostro
en el oscuro, como si quisiese diseñarlo.

 

Ningún lugar. Lugar alguno perdura.
Un vientre la sombra alisa, un plano
el sol levanta, cumbres que el viento
plisa. Sol blanco, sol negro, el viento
apaga los rastros en la arena, apaga
los pasos de la lengua. Y el sol
asola a punto, el frío de la luna abrasa
la piel que se desprende,
el sudor del cuerpo en fiebre
que se suelta, y las pieles son silencios,
poemas que se dejan,
y el lugar es aquí, y allí, y ayer
y las letras vuelan, revuelan,
acechan como cobras en la arena
(camaleones escondiéndose en sí mismos),
espían las pieles que se extienden, página
o pálea, cuerpo que se desviste, desmiente,
desvaría: todo es espejismo.

 

Un son de antiguas aguas apagadas.

 

Espejismo la rima, fábula de la nada,
las fallas de ese habla en desgeografía,
el habla hermafrodita, imantación de astillas,
la voz en transparencia, edificios de arena.

 

Pero tu mirar el mismo, en iris-diafragma,
fotogramas de menos en la edición del libro,
y el enredo sueño y sol, delirios insulares,
tu mirar transparente, la imagen
margen de agua, y las fábulas del habla,
las fallas de esa nada —superficie de albura

 

o árida escritura.

 

En la moldura de la página
marginalia de escarpas.

 

(Traducción: Roberto Echavarren).

 

Canto III

 

Fim de tarde, as sombras suam / sua tintura sobre as cores, extraem / da fava rara da luz o contorno das coisas, / as rugas na concha de um molusco, / grafismos, vieiras milenares com reservas / de sal, poema estranho trançado / em esgarços de oleandros, / enquanto corpos / mergulham em câmara lenta, / e nada é imagem / (teu corpo branco em mar de sargaços),/ nada é miragem / na tela rútila das pálpebras. // As sombras suam, ressumbram,/ e essa é a sombra mais certa das sombras / calcinadas que me cercam. // Quero levá-la no corpo, / como um amor, como inscrição rupestre / no granito, como o verso / que um tuaregue cola ao corpo. // Quero levá-la comigo, como um amor, / como essa ausência azul que assombra / a noite e sonha o contorno de um rosto / no escuro, como se quisesse desenhá-lo. // Nenhum lugar. Lugar algum perdura. / Um ventre a sombra alisa, um plano / o sol levanta, cumes que o vento / plissa. Sol branco, sol negro, o vento / apaga os rastros da areia, apaga / os passos da língua. E o sol / a pino assola, o frio da lua cresta / a pele que se solta, / o suor do corpo em febre / que se solta,  e as peles são silêncios, / poemas que se deixam, / e o lugar é aqui, e lá, e ontem, / e as letras voam, revoam, / espreitam como cobras sob a areia / (camaleões se escondendo em si mesmos), / espiam as peles que se espalham, página /ou pálea, corpo que se desveste, desmente, / desvaira: tudo é miragem. // Um som de antigas águas apagadas. //  É miragem a rima, a fábula do nada,/ as falhas dessa fala em desgeografia, / a fala hermafrodita, imantação de astilhas,/ a voz na transparência, edifícios de areia. // Mas teu olhar o mesmo, em íris-diafragma,/ fotogramas a menos na edição do livro, / e o enredo sonho e sol, delírios insulares,/ teu olhar transparente, a imagem / margem d’água, e as fábulas da fala, / as falhas desse nada – superfície de alvura // ou árida escritura. // Na moldura da página, / marginália de escarpas.

 

E J E R C I C I O   E S P I R I T U A L

 

Aquí  pocas letras bastan,
pues todo es como papel en blanco.
Manuel da Nóbrega. Carta 8 (1549)

 

s u r c o
e n   e l   p o r t u l a n o
d e   l a   a r e n a
e l   d e r r o t e r o   d e l   e r r o r
( d e l   l a t í n   e r r o r e ) :
v i a j e    s i n   r u m b o
y   s i n   f i n ,
c o m o   e l   d e   l o s   a s c e t a s
y   l o s   a p a s i o n a d o s ,
p r e d e s t i n a d o s   a l   é x t a s i s
y   a l   n a u f r a g i o

 

(Traducción: Reynaldo Jiménez).

 

EXERCÍCIO ESPIRITUAL

 

Aqui pocas letras bastan,
pues todo es como papel en blanco.
Manuel da Nóbrega. Carta 8 (1549)

 

risco / no portulano / da areia / o roteiro do error / (do latim errore) : / viagem sem rumo / e sem fim , / como a dos ascetas / e dos apaixonados , / fadados ao êxtase / e ao naufrágio

 

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